O Centro de Documentação e Memória do Boi-Bumbá Caprichoso acaba de completar 2 anos e, apesar da pouca idade, já deixa um legado para a cultura do Boi-Bumbá de Parintins, além dos muitos projetos que já tem no horizonte.

De acordo com o idealizador do projeto e seu coordenador, o professor da Universidade do Estado do Amazonas, Diego Omar, a ideia surgiu durante o auge da pandemia, em 2020, quando todo o setor cultural estava sendo gravemente afetado pelas sucessivas ondas de Covid-19 e quando o Festival, e consequentemente, o espetáculo de arena, haviam sido suspensos. “Era um quadro delicado e estávamos perdendo inclusive vários de nossos baluartes, pessoas que viram o Boi brincar em outros tempos e cuja memória era fundamental para a nossa agremiação. Aos novos desafios, juntavam-se antigas angústias, compartilhadas por dirigentes e torcedores, quanto aos nossos acervos sonoros e visuais, que precisavam ser melhor cuidados".  

Assim surgiu a ideia de criar no Boi Caprichoso um setor que pudesse desenvolver ações de salvaguarda e preservação e que fosse capaz de trabalhar em várias frentes e com projetos integrados, mobilizando várias áreas. O CEDEM foi aberto no dia 05 de janeiro de 2021 e inaugurado oficialmente alguns meses mais tarde, quando as políticas de isolamento social foram abrandadas por conta da vacinação. Já no primeiro ano, foi estruturado um espaço para receber e tratar acervos de diversos tipos. Também foram iniciados um programa de história oral, que conta hoje com mais de cem entrevistas em áudio e vídeo, e foram instalados espaços expositivos que ajudam a contar a história do Bumbá azul e branco. Além disso, a equipe do Centro de Documentação e Memória promoveu e participou de lives e deu início à publicação da coleção de livros “Bumbás de Parintins – nosso patrimônio” – parceria que envolve também a Editora da UEA e a Autografia.

No segundo ano, as ações foram mais amplas e miraram no público infanto-juvenil, que era “aquele que estava mais carente de ações do Boi-Bumbá”, segundo Diego Omar. “Resgatamos a Tarde Alegre Azul e Branca, que foi o maior sucesso, por que acreditávamos que as crianças precisavam ter seu espaço assegurado e também com a consciência de que cuidar do patrimônio implica em dialogar com as novas gerações. Por isso, também publicamos duas histórias em quadrinhos – uma sobre a história do Caprichoso e outra inspirada no tratamento que temos dado às cosmologias indígenas, mais especificamente, a Yanomami”. A essas ações somaram-se a exposição “Boi Caprichoso: Um mural para a alegria", inaugurada em dezembro e mais três livros da coleção: “Rivalidade e afeição”, que reúne textos publicados ao longo de mais de duas décadas pela antropóloga Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti; “Estrelas de um Centenário”, escrito há mais de 10 anos pela eterna madrinha do Boi Caprichoso, dona Odinea Andrade e a dissertação de mestrado do presidente do Conselho de Arte do Caprichoso, Ericky Nakanome.

Para 2023, o CEDEM promete atuar na consolidação das linhas de trabalho abertas nesses dois anos, fortalecendo os canais de diálogo com as políticas estaduais de cultura e com as diretrizes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para a preservação de bens imateriais. Novas publicações, ações de educação patrimonial, exposições e a intensificação dos cuidados com o acervo e sua futura disponibilização estão no horizonte. “Tem sido linda a forma como os torcedores têm abraçado nossos projetos. Da mesma forma, temos uma gratidão imensa a toda a diretoria, em especial ao presidente Jender Lobato, que sempre nos deu um grande apoio. Mas o sucesso e a continuidade do trabalho dependem, é claro, de novos editais de fomento e de formas alternativas de captação de recursos, fundamentais pra gente”, arremata do coordenador do CEDEM.